sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Rosas do cangaço

05/02/2010
Rosas do cangaço
João de Sousa Lima lança livro sobre Maria Bonita e critica o descaso com a preservação da memória deste episódio histórico.
Adriano Belisário
Andarilho do sertão, João de Sousa Lima já colheu inúmeras histórias sobre o cangaço em seus 15 anos de pesquisa sobre o tema. Focando nos depoimentos orais, o historiador entrevistou moradores da região que conviveram de perto com personagens míticos do banditismo nordestino, como Lampião e Maria Bonita, tema de seu último livro.Recém-lançada, a obra ‘Maria Bonita - Diferentes contextos que envolvem a vida da Rainha do Cangaço’ reúne textos de João de Sousa e outros autores, que trazem fatos inéditos e análises sociológicas e linguísticas sobre o cangaço. Um dos objetivos é desfazer alguns dos equívocos que cercam a imagem de Virgulino Ferreira e sua esposa, como a história sobre um campo de futebol que teria sido construído por Lampião no Raso da Catarina (BA). “Foi um historiador que encontrou um campo de pouso feito pelo Petrobras nos anos 60 para exploração de petróleo e disse que Lampião jogava bola lá sem nenhum fundamento”, explica.Apesar de Maria Bonita atrair os holofotes, João de Sousa também pesquisa sobre outras rosas do cangaço. Não foram poucas as mulheres que se entregaram à vida nômade no sertão e mostraram que nem só de bala, sangue e poeira foi feita esta história. É o caso de Durvinha, esposa de Virgínio, um dos mais belos cangaceiros. “Depois que ele faleceu, ninguém sabia mais o que ela tinha feito. Saí em busca e a encontrei vivendo com Moreno em Minas Gerais. Ele era um companheiro leal de Virgínio e assumiu o bando de cangaceiros e a esposa do chefe após sua morte. Durvinha morreu apaixonada por Virgínio e Moreno não achava ruim, pois também o admirava”, relata João de Sousa.Se Virgínio destacava-se por sua beleza entre os homens, o posto de Miss Cangaço poderia ir para Lídia Pereira de Souza, descrita como a mais bonita dentre as mulheres do sertão naquela época. Ao conhecer um irmão de Lídia, ainda vivo, João de Sousa chegou perto de revelar ao mundo o rosto da mais bela cangaceira. “Ele me deu um baú que poderia ter fotos dela, mas estava tudo carcomido por cupins. Chegamos tardes demais”, lamenta o historiador, que irá transferir todo acervo de sua pesquisa sobre o assunto para o Museu Regional do Sertão, a ser inaugurado por volta de 2012 na cidade de Paulo Afonso (BA). Enquanto o Museu não sai, o historiador filma um curta-metragem acerca do assunto e organiza este ano o II Seminário Internacional sobre Maria Bonita, uma espécie de preparativo para a terceira edição, que ocorre em 2011, centenário do nascimento de Maria Bonita. Porém, sem um grande reconhecimento público da importância de preservar a história do cangaço, esta conservação é feita através de iniciativas isoladas e limitadas, como se vê no caso da fotografia de Lídia Pereira. “Se tivessem mais pessoas envolvidas nisto, a história do Brasil ganharia muito mais”, aposta João de Sousa.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

II Seminário Internacional do Centenário de Maria Bonita - 8 a 10/março, em Paulo Afonso -

20/01/2010
CANGAÇO EM PAUTACampus VIII da UNEB realiza II Seminário Internacional do Centenário de Maria Bonita - Evento, aberto ao público externo, tematiza diferentes contextos da biografia da companheira do cangaceiro Lampião - De 8 a 10/março, em Paulo Afonso - Inscrições abertas (gratuitas)
O Campus VIII da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), em Paulo Afonso, vai ser palco de mais uma homenagem à cangaceira baiana Maria Gomes de Oliveira, entre os dias 8 e 10 de março.Durante esse período, o Departamento de Educação (DEDC) do campus, em parceria com a Prefeitura Municipal de Paulo Afonso, vai realizar o II Seminário Internacional do Centenário de Maria Bonita, com o tema Diferentes contextos que envolveram a vida da rainha do cangaço.A iniciativa, gratuita e aberta ao publico externo, está com inscrições abertas até o primeiro dia do evento no Núcleo de Estudos em Comunidades e Povos Tradicionais e Ações Socioambientais (Nectas) da unidade. O diretor do DEDC, Juracy Marques, destaca que o evento vai debater a história de Maria Bonita, a partir da análise da conjuntura política e econômica da época, incluindo o seu convívio familiar.“O papel da UNEB é valorizar uma das mais importantes filhas de Paulo Afonso, e estimular as discussões sobre o cangaço, que é um tema que tem despertado interesse em diversas partes do mundo”, observa Juracy. A programação do evento prevê a realização de mesas-redondas, mostras de filmes e lançamento de livros, reservando a participação de lideranças políticas e militares, descendentes de cangaceiros, escritores e pesquisadores do tema. Já confirmaram presença Eribaldo de Oliveira e Adelmo Gomes (parentes de Maria Bonita), Teófilo Pires (ex-soldado de volante), Neli Conceição e João Souto, filhos do casal de cangaceiros Moreno e Durvinha.A ação, que tem apoio da Reitoria e da Pró-Reitoria de Extensão (Proex) da UNEB, dá continuidade às comemorações - iniciadas em 2009 com a primeira edição do seminário - do centenário de nascimento da companheira de Lampião, a ser celebrado em março de 2011.Rainha do CangaçoMaria Gomes de Oliveira, a Maria Bonita, foi a primeira mulher a se destacar no cenário do cangaço. Ela introduziu vários costumes entre os cangaceiros, que até então não permitiam mulheres no grupo.
"Maria Bonita foi na época do cangaço uma jovem que quebrou os padrões de um Sertão ainda resguardado quanto aos reais valores da mulher. Hoje ela é simplesmente parte da história, um capítulo dos acontecimentos que marcaram o nosso Nordeste brasileiro", destaca João Lima, um dos maiores pesquisadores sobre a vida da cangaceira e representante da prefeitura local na coordenação da segunda edição do seminário.
Nascida em 8 de março de 1911, em uma fazenda na Malhada da Caiçara, em Paulo Afonso, de acordo com pesquisadores, Maria Bonita casou-se aos 15 anos com um sapateiro, com quem vivia brigando. Durante uma das separações de seu marido, ela conheceu Lampião e apaixonou-se. O rei do cangaço, nessa época, tinha quase 33 anos e Maria, pouco mais de 20.
Maria Bonita entrou para o bando ao final de 1929 e tornou-se musa e rainha do cangaço, ocupando-se, entre outras coisas, com a tarefa de costurar a indumentária dos cangaceiros.
Lampião arregimentou 47 homens e mulheres de várias ramificações familiares apenas em Paulo Afonso. Maria Bonita conviveu durante nove anos com Lampião e teve uma filha, Expedita. Como seguidora do bando, foi ferida apenas uma vez.
E foi no dia 28 de julho de 1938, na fazenda Angicos, em Sergipe, durante um ataque feito por uma volante ao bando, que um dos casais mais famosos do país foi assassinado, transformando suas vidas em um marco da história nordestina.
Informações: DEDC/Campus VIII - Tel.: .

[Texto: Ascom/UNEB, com informações do DEDC/Campus VIII. Imagem: Divulgação] vs/ma