domingo, 21 de agosto de 2011

Se escola fosse estádio e educação fosse Copa - Jorge Portugal

REPASSANDO...

Passei, nesses últimos dias, meu olhar pelo noticiário nacional e não dá outra: copa do mundo, construção de estádios, ampliação de aeroportos, modernização dos meios de transportes, um frenesi em torno do tema que domina mentes e corações de dez entre dez brasileiros.
Há semanas, o todo-poderoso do futebol mundial ousou desconfiar de nossa capacidade de entregar o “circo da copa” em tempo hábil para a realização do evento, e deve ter recebido pancada de todos os lados pois, imediatamente, retratou-se e até elogiou publicamente o ritmo das obras.
Fiquei pensando: já imaginaram se um terço desse vigor cívico-esportivo fosse canalizado para melhorar nosso ensino público? É… pois se todo mundo acha que reside aí nossa falha fundamental, nosso pecado social de fundo, que compromete todo o futuro e a própria sustentabilidade de nossa condição de BRIC, por que não um esforço nacional pela educação pública de qualidade igual ao que despendemos para preparar a Copa do Mundo?
E olhe que nem precisaria ser tanto! Lembrei-me, incontinenti, que o educador Cristovam Buarque, ex-ministro da Educação e hoje senador da República, encaminhou ao Senado dois projetos com o condão de fazer as coisas nessa área ganharem velocidade de lebre: um deles prevê simplesmente a federalização do ensino público, ou seja, nosso ensino básico passaria a ser responsabilidade da União, com professores, coordenadores e corpo administrativo tendo seus planos de carreira e recebendo salários compatíveis com os de funcionários do Banco do Brasil ou da Caixa Econômica Federal. Que tal? Não é valorizar essa classe estratégica ao nosso crescimento o desejo de todos que amamos o Brasil? O projeto está lá… parado, quieto, na gaveta de algum relator.
O outro projeto, do mesmo Cristovam, é uma verdadeira “bomba do bem”. Leiam com atenção: ele, o projeto, prevê que “daqui a sete anos, todos os detentores de cargo público, do vereador ao presidente da República serão obrigados a matricular seus filhos na rede pública de ensino”. E então? Já imaginaram o esforço que deputados (estaduais e federais), senadores e governadores não fariam para melhorar nossas escolas, sabendo que seus filhos, netos, iriam estudar nelas daqui a sete anos? Pois bem, esse projeto está adormecido na gaveta do senador Antônio Carlos Valladares, de Sergipe, seu relator. E não anda. E ninguém sabe dele.
Desafio ao leitor: você é capaz de, daí do seu conforto, concordando com os projetos, pegar o seu computador e passar um e-mail para o senador Valadares
(antoniocarlosvaladares@senador.gov.br) pedindo que ele desengavete essa “bomba do bem”? É um ato cívico simples. Pela educação. Porque pela Copa já estamos fazendo muito mais.
Jorge Portugal é educador, poeta e apresentador de TV. Idealizou e apresenta o programa “Tô Sabendo”, da TV Brasil.
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Abaixo segue os termos do meu e-mail.
Para facilitar e agilizar, pode copiá-lo, se for o caso...

Prezado Senador,

Assunto: Projeto "Bomba do Bem"

Solicitamos que seja desengavetado o projeto denominado pelos educadores deste País como “bomba do bem”.
Estamos ávidos por uma educação de qualidade, onde o ensino público seja um exemplo para todos.

Vamos, Senador, caminhar juntos para a melhoria do nível de nossas escolas públicas? Dê, por favor, o primeiro passo, desengavete o projeto do Senador Cristovam Buarque. Escola pública de qualidade já, para todos os brasileiros, inclusive para os seus familiares e de todos os políticos deste País.
("o projeto, prevê que daqui a sete anos, todos os detentores de cargo público, do vereador ao presidente da República serão obrigados a matricular seus filhos na rede pública de ensino”).

Cordialmente,

........................................................................

(seu nome)

__..Exter

Já fiz a minha parte. Já enviei um e-mail ao deputado. Faça a sua e envie!!


Lívia Santarém, Jorge Luiz

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO DE HISTORIADOR

AGORA É OFICIAL:


A ANPUH APÓIA A REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO DE HISTORIADOR

O título deste texto pode soar um tanto estranho para muitos colegas que militam há tempos em nossa associação. Afinal, uma de suas bandeiras históricas mais conhecidas é, justamente, a luta pela regulamentação de nossa profissão. Como assim, podem eles perguntar, só agora a ANPUH passou a apoiar oficialmente essa causa?
De fato, em muitos momentos, a ANPUH lutou pela regulamentação, inclusive participando da redação de projetos de lei e pressionando parlamentares. Porém, tal atuação dependia da vontade e da postura dos dirigentes da associação, pois não havia nenhum documento oficial que afirmasse o comprometimento da entidade com essa luta. Tanto que, em determinadas gestões, quando os membros da diretoria entendiam, baseados em respeitáveis argumentos, cabe dizer, que a regulamentação não era apropriada, o empenho pela causa esmorecia e as ações por sua implementação não eram levadas adiante.
Porém, na nossa última Assembléia Geral, realizada no mês passado durante o XXVI Simpósio Nacional de História, o comprometimento com a regulamentação, por ampla maioria de votos, tornou-se oficial, consta em ata, e deve ser uma tarefa da entidade independente de quem sejam os seus dirigentes.
Respeitamos os posicionamentos contrários. Muitos colegas alegam que a regulamentação profissional contribui para uma formatação corporativa da sociedade, cara a regimes autoritários; outros, que ela estimula a competição e exclui olhares “não profissionais” que muito podem contribuir para o conhecimento histórico. Essas, e outras, são argumentações válidas e respeitáveis. Mas, apesar disso, a ANPUH apóia a regulamentação por reconhecer que há competências específicas do profissional de História, adquiridas ao longo de anos de formação, que não podem ser substituídas pela ação de outros profissionais. Além disso, cada vez mais atuamos em um campo em expansão, aquele ligado à memória e ao patrimônio, onde atuam também outros profissionais que têm profissão regulamentada, como museólogos, arquivistas, arquitetos, turismólogos, etc., o que, na prática, implica seguidamente a exclusão do “olhar do historiador”. Por exemplo, um museu histórico deve obrigatoriamente contar em seus quadros com um museólogo, mas não com um historiador, o mesmo valendo para um arquivo histórico em relação aos arquivistas. Só para citar um caso concreto: recentemente houve um concurso público para o cargo de historiador em uma instituição oficial ligada ao patrimônio; porém, para ocupá-lo, não era necessário ter formação na área de História, seja de graduação, seja de pós-graduação. Não queremos estimular a competição, mas sim afirmar que, nas equipes interdisciplinares e colaborativas que devem atuar nessas instituições, o papel do historiador é imprescindível. Da mesma forma, a regulamentação parece-nos importante por evidenciar que tanto o ensino de história quanto a pesquisa histórica devem ser praticados por profissionais específicos, os quais, embora possam ter feito partes de sua formação em outras áreas (e os projetos que tramitam no Congresso são suficientemente abertos para abarcar esses casos), desenvolveram habilidades específicas, que não podem ser facilmente improvisadas por não historiadores.
Obviamente, a regulamentação da profissão não pode ser encarada como a solução de todos os nossos problemas. Precisamos nos defrontar com uma série de desafios teóricos, metodológicos, técnicos e éticos para delinearmos com mais precisão o nosso espaço. Mas sem dúvida é um passo importante para a profissionalização. Por isso, convidamos a todos os colegas a se engajaram nessa luta. Dia 19 de Agosto é o Dia do Historiador. Conhecemos bem a eficácia simbólica das comemorações. Por isso, como no ano passado, queremos transformá-la em DIA DE LUTA PELA REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO! Temos um projeto tramitando no Senado, o PLS 368 de 2009, já aprovado em várias comissões, e outro na Câmara, o PL 3759/2004, atualmente aguardando parecer na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público. Pressionem os seus senadores e deputados para aprová-los. Só a nossa ação política coletiva vai permitir que a nossa demanda seja efetivada!
Para saber mais sobre a regulamentação e os projetos, consulte no site na ANPUH o link “Profissionalização”.


Saudações anpuhanas e parabéns a todos nós pelo Dia do Historiador,

Benito Schmidt
Presidente da ANPUH (Gestão 2011-2013)

Diretoria Biênio 2011-2013

Presidente: Benito Bisso Schmidt(UFRGS)
Vice-Presidente: Margarida Maria Dias de Oliveira (UFRN)
Secretário Geral: Angelo Aparecido Priori (UEM)
1º Secretário: Antonio Celso Ferreira (UNESP)
2º Secretário: Carlos Augusto Lima Ferreira (UEFS)
1º Tesoureiro: Francisco Carlos Palomanes Martinho (USP)
2º Tesoureiro: Eudes Fernando Leite (UFGD)
Editora da Revista Brasileira de História: Marieta Moraes Ferreira (UFRJ/FGV)
Editoria da Revista História Hoje: Patricia Melo Sampaio (UFAM)


NOTÍCIAS DA GESTÃO

1. Regulamentação da Profissão

A Assembléia Geral realizada durante o XXVI Simpósio Nacional de História, em São Paulo, aprovou o apoio da ANPUH à regulamentação da profissão. O PLS 368/2009, de autoria de Paulo Paim (PT/RS) e que tramita no Senado Federal, encontra-se na Comissão de Assuntos Sociais com a Relatoria. O Relator indicado pelo Presidente da Comissão é o Senador Cristovam Buarque. Já foi aprovado na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania e na Comissão de Educação, Cultura e Esporte. Acompanhe a tramitação do Projeto de Lei do Senado através do link . É possível cadastrar seu e-mail e receber todas a s últimas notícias através do mesmo site.

2. Estatuto e Regimento

Encerrou-se no último dia 15 de agosto o envio de propostas para a reelaboração do Estatuto e elaboração do Regimento da ANPUH. As propostas foram encaminhadas à consultoria jurídica para análise. As sugestões aceitas serão incorporadas e submetidas à aprovação dos associados por meio de votação eletrônica. A eleição dos novos Estatuto e Regimento ocorrerá entre os dias 22 e 25 de agosto de 2011, no site da ANPUH. Fiquem atentos e votem!

3. Comemoração dos 50 anos da ANPUH

A tese agraciada com o prêmio Manoel Luiz Salgado Guimarães já foi revisada e está em fase de preparação para impressão pela Editora UNESP. Os outros três livros já foram lançados.

4. Revista Brasileira de História

A edição 61 com dossiê "Comemorações", de junho de 2011, já foi lançada em português e encontra-se disponível no site da ANPUH. A edição em inglês já foi entregue ao Scielo para indexação, e aguarda a finalização dos trabalhos pelo Scielo para ser lançada.



CONGRESSOS & EVENTOS


IV CICLO INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS e XII CICLO DE ESTUDOS ANTIGOS
E MEDIEVAIS UNESP
Data: 22 a 25 de agosto de 2011
Local: Faculdade de Ciências e Letras da UNESP - Campus de Assis
Mais informações aqui

V SEMINÁRIO NACIONAL DE HISTÓRIA DA HISTORIOGRAFIA: BIOGRAFIA E HISTÓRIA INTELECTUAL
Data: 23 a 25 de agosto de 2011
Local: Universidade Federal de Ouro Preto, Campus de Mariana
Mais informações aqui

III ENCONTRO DE NOVOS PESQUISADORES EM HISTÓRIA
Data: 23 a 26 de agosto de 2011
Local: Universidade Federal da Bahia
Mais informações aqui

PALESTRA: CONSERVAÇÃO DE ACERVOS AUDIOVISUAIS
Data: 24 de agosto de 2011
Local: CEDEM
Mais informações aqui

SEMINÁRIO: PRODUZINDO FRONTEIRAS: ENTRECRUZANDO ESCALAS, POVOS E IMPÉRIOS NA
AMÉRICA DO SUL (1640-1828)

Data: 24, 25 e 26 de agosto de 2011
Local: Anfiteatro de História - FFLCH USP
Mais informações aqui

V SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA: CULTURA E IDENTIDADES
Data: 29 de agosto a 01 de setembro de 2011
Local: Universidade Federal de Goiás - Campus II Goiânia
Mais informações aqui

III COLÓQUIO FESTAS E SOCIALIDADES
Data: 31 de agosto a 02 de setembro de 2011
Local: Universidade Federal de Minas Gerais, FAFICH

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Heróis Negros da Revolta de Búzios

Colegiado de História
DEDC UNEB CAMPUS II


Heróis Negros da Revolta de Búzios receberão homenagens com conferência, caminhada e lançamentos

Lei Federal incluiu líderes baianos no Livro dos Heróis Nacionais

Em 12 de agosto de 1798, a cidade de Salvador foi cenário da maior revolta política social da história, conhecida como Revolta dos Búzios. Como resultado, os soldados Lucas Dantas de Amorim Torres e Luís Gonzaga das Virgens e Veiga e os alfaiates Manoel Faustino Santos Lira e João de Deus do Nascimento foram enforcados e esquartejados como revoltosos. Agora, mais de 200 anos depois, os quatro líderes são homenageados e aclamados como Heróis Negros da nação brasileira. Por conta desta homenagem, o Governo do Estado, através da Fundação Pedro Calmon/SecultBA e da Secretaria de Promoção da Igualdade (Sepromi), em parceria com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da Republica (Seppir), realiza na próxima sexta-feira (12) uma programação especial.

Logo pela manhã, no Palácio Rio Branco, Praça Municipal, as homenagens começam com a abertura da exposição interativa Revolta dos Búzios, Heróis Negros do Brasil, que apresentará, para visitação até domingo (14), documentos textuais, manuscritos e livros raros sobre a temática. Apresenta também, biografias dos heróis e réplicas dos “boletins sediciosos” afixados nas ruas de Salvador pelos líderes do movimento. Na ocasião, será lançada uma cartilha com textos e documentos históricos sobre a revolta, além de selo e carimbo comemorativos aos ‘Heróis Negros do Brasil’, em parceria com a Empresa de Correios e Telégrafos (ECT).

Caminhada - Saindo do local onde os heróis foram enforcados, Praça da Piedade, até o Palácio Rio Branco, às 15h, uma caminhada será animada por grupos culturais, a exemplo dos jovens da Escola Criativa do Olodum, e pela banda Tambores da Raça, comandada pelo cantor e compositor Adailton Poesia: “Fico feliz que o Brasil tenha reconhecido o significado desse herois exaltados há bastante tempo nas letras e canções dos blocos afro por terem lutado pela igualdade, liberdade e fraternidade”, exclama o artista.

Finalizando o dia de atividades, a conferência Revolta dos Búzios: Heróis Negros do Brasil, com Ubiratan Castro de Araújo, diretor geral da Fundação Pedro Calmon/SecultBA, Patrícia Valim, doutoranda em História pela Universidade de São Paulo (USP), e João Jorge Rodrigues, mestre em direito e presidente do Grupo Cultural Olodum, traz ao debate a importância de celebrar a memória dos líderes negros. “Este é um momento importante, pois celebra o reconhecimento de um processo que foi construído ao longo dos muitos anos, pelas historias e versos cantados pelos blocos afro”, afirma a Ministra da Seppir, Luiza Bairros. Ela ainda complementa que “com a inscrição dos líderes de Búzios no livro dos heróis nacionais acontece o encontro da historia oficial com a historia sempre contada e lembrada pela cultura popular”.

Precursores - O historiador Ubiratan Castro de Araújo também destaca o papel dos precursores baianos na luta pela liberdade. “Os quatro mártires negros da Revolta dos Búzios representam os milhares de homens e mulheres pobres e escravizados que lutaram pela liberdade da Bahia. Mesmo condenados e enforcados na Praça da Piedade, em 8 de novembro de 1799, seus ideais continuaram vivos e ressurgiram em 1822-1823, nas lutas pela independência do Brasil”, ressalta.

Contextualização - A Revolta dos Búzios, também conhecida como Revolta dos Alfaiates ou Conjuração Baiana, ocorreu em agosto de 1798 reunindo a população negra que sonhava e lutava pela implantação de uma República democrática e pelo fim da escravidão. Em 04 de março de 2011, a presidente Dilma Roussef reconheceu a importância dos líderes deste movimento, lhes considerando heróis para o Estado Brasileiro, a partir do projeto de Lei do deputado federal Luiz Alberto. Por meio da Lei 12.391, os quatro líderes da Revolta dos Búzios foram incluídos no Livro dos Heróis Nacionais, conhecido como o Livro de Aço do Brasil.

SERVIÇO
Celebração aos Heróis Negros da Revolta dos Búzios
Lançamento de cartilha, selo e carimbo, abertura de exposição, caminhada pelo Centro de Salvador e conferência com especialistas.
Palácio Rio Branco, Praça Municipal, s/n.
Dia 12 de agosto, a partir das 10h
GRATUITO

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Assessoria de Comunicação
Fundação Pedro Calmon – SecultBA
(71) 3116-6918/ 6919/ 6676
ascom.fpc@fpc.ba.gov.br
http://www.fpc.ba.gov.br
http://twitter.com/fpedrocalmon
www.cultura.ba.gov.br
http://plugcultura.wordpress.com

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Fortalecimento entre relações Brasil-Nigéria

Acordo entre UNEB e universidade de Kwara vai fortalecer relações Brasil-Nigéria


Cooperação tecnicocientífica contempla áreas de educação, tecnologia e inovação. Fotos: Cindi Rios/Ascom
A UNEB deu mais um passo para consolidar a sua internacionalização.

Ontem (28) à tarde, o reitor da instituição, Lourisvaldo Valentim, recebeu a visita de autoridades e diplomatas da Nigéria, para tratar de ações de relacionamento entre a UNEB e a Universidade do Estado de Kwara (Kwasu), do país africano.

No encontro, realizado no gabinete da Reitoria, Campus I, em Salvador, Valentim e o vice-reitor da Kwasu, AbdulRasheed Na’Allah, assinaram um acordo de cooperação entre as duas instituições (foto home).

A parceria prevê o intercâmbio de experiências e de pessoal no campo da investigação, do ensino, da docência, da produção técnico, científica e cultural nas áreas de educação, tecnologia, inovação e ciência.


Reitor Valentim e vice-reitor AbdulRasheed querem intercâmbio de experiências e de pessoal
“Para a UNEB é muito importante estabelecer novas parcerias com os irmãos africanos. Nossa universidade vem se destacando no que se refere às políticas afirmativas, primeiro com as cotas, depois com licenciatura sobre cultura e história da África e oferta de línguas africanas. Por isso precisamos de acordos como esse para fortalecer essas ações”, destacou Valentim.

O reitor aproveitou para antecipar que está articulando, com o governo do estado, a instalação de um polo de ensino da universidade no Pelourinho, bairro histórico da capital, em parceria com blocos afro soteropolitanos. “O intercâmbio de professores e estudantes com a Kwasu vai qualificar nossos novos cursos”, avaliou.

Outro ponto de interesse entre as duas universidades é a troca de conhecimentos para a instalação, na Nigéria, de um centro de estudos sobre a Diáspora Africana (fenômeno histórico relacionado à imigração de negros escravizados da África para outros continentes).

“Agradeço ao reitor Valentim por esse importante acordo firmado. Nossas instituições podem ser grandes parceiras nas áreas do ensino e da pesquisa sobre a Diáspora, o que vai permitir o fortalecimento dos laços entre Brasil e Nigéria”, pontuou AbdulRasheed.

Cooperação tecnicocientífica
Na reunião, o reitor Valentim também mostrou interesse em celebrar convênios de cooperação tecnicocientífica nas áreas de energia limpa – já que a Kwasu mantém um centro de estudos sobre o tema – e de agronomia, disponibilizando o intercâmbio de conhecimentos com o mestrado em horticultura irrigada do Campus III da UNEB, em Juazeiro.


Adrianna Freire: demanda imediata é o envio de professores para o ensino da língua portuguesa
A assessora especial para Cooperação Internacional (Asseci) da UNEB, Adrianna Freire, adiantou que detalhes do acordo interinstitucional serão discutidos em novos encontros a serem agendados entre as partes, mas que existe “uma demanda imediata de envio de professores leitores para o ensino da língua portuguesa na universidade nigeriana”.

A coordenação das futuras ações do acordo, que terá cinco anos de vigência, ficará sob responsabilidade do professor Wilson Mattos, diretor do Centro de Estudos dos Povos Afro-Índio-Americanos (Cepaia) da UNEB, e da professora Nancy Hanemann, da Kwasu.

A vice-diretora do Cepaia, Cláudia Rocha, que representou Wilson Mattos no encontro, colocou o centro à disposição da universidade nigeriana, lembrando que a UNEB tem forte interesse no intercâmbio de conhecimentos com os povos africanos.

A comitiva nigeriana – composta ainda pelo senador Mohammed Lafiaji, pelo embaixador da Nigéria no Brasil, Abubakar Abduljalil-Sulaiman, e funcionários da embaixada – também conheceu a infraestrutura do Campus I da UNEB, visitando o teatro, a biblioteca central e os departamentos da unidade.

Atualmente, a UNEB possui acordos de intercâmbio acadêmico e cultural com países como Argentina, Chile, Paraguai, Estados Unidos, França, Itália, Portugal, Espanha, Costa do Marfim, Moçambique, Angola e Quênia.

Victor Seabra
Núcleo de Jornalismo
Assessoria de Comunicação


fonte: http://www.uneb.br/2011/07/29/uneb-firma-acordo-de-cooperacao-academica-com-universidade-nigeriana
às 23:32 - 02/08/2011

Teorias Raciais e História da África

Teorias Raciais e História da África
por Joseph Ki-Zerbo.

Nenhum trabalho sobre a África seria completo se não houvesse uma discussão sobre o problema das teorias raciais e sua aplicação ao caso africano. Expediente intensamente utilizado para justificar o preconceito, as teorias raciais mostram-se um grande falácia no texto de Ki-Zerbo, alicerçado pelas mais modernas e recentes técnicas antropológicas e genéticas. in História Geral da África. São Paulo; Ática, 1981 volume 1

O conceito de raça é um dos mais difíceis de definir cientificamente. Se admitirmos, como a maioria dos especialistas posteriores a Darwin, que a espécie humana pertence a um único tronco, a teoria das "raças" só pode ser desenvolvida cientificamente dentro do contexto do evolucionismo.
Com efeito, a raciação se inscreve no processo geral da evolução diversificadora. Como observa J. Ruffie, ela requer duas condições: em primeiro lugar, o isolamento sexual, freqüentemente relativo, que provoca pouco a pouco uma paisagem genética e morfológica singular. A raciação, portanto, baseia-se num estoque gênico diferente, causado quer por oscilação genética (o acaso na transmissão dos genes faz com que um deles se transmita com mais freqüência que outro, ou, ao contrário, que seu alelo seja o mais largamente difundido), quer por seleção natural. Esta conduz a uma diversificação adaptativa, graças à qual um grupo tende a conservar o equipamento genético que o adapte melhor a um certo meio. Na África, ambos os processos devem ter ocorrido. De fato, a oscilação genética, que se exprime ao máximo em pequenos grupos, operou em etnias restritas, submetidas a um processo social de cissiparidade por ocasião das disputas de sucessão ou de terras e em virtude das grandes áreas virgens disponíveis. Esse processo marcou particularmente o patrimônio genético das etnias endógamas ou florestais. Quanto à seleção natural, ela teve a oportunidade de entrar em jogo em ecologias tão contrastantes como as do deserto e da floresta densa, dos altos planaltos e das costas recobertas de mangues. Em resumo, do ponto de vista biológico, os homens de uma "raça" têm em comum alguns fatores genéticos que num outro grupo "racial" são substituídos por seus alelos; entre os mestiços, coexistem os dois tipos de genes.
Como era de esperar, a identificação das "raças" se fez em primeiro lugar a partir de critérios aparentes, para em seguida ir considerando, pouco a pouco, realidades mais profundas. Aliás, as características exteriores e os fenômenos internos não estão absolutamente separados. Se certos genes comandam os mecanismos hereditários que determinam a cor da pele, por exemplo, esta também está ligada ao meio ambiente. Observou-se uma correlação positiva entre estatura e temperatura mais elevada do mês mais quente e uma correlação negativa entre estatura e umidade. Da mesma forma, um nariz fino aquece melhor o ar num clima mais frio e umidifica o ar seco inspirado. É assim que o índice nasal aumenta consideravelmente nas populações subsaarianas, do deserto para a floresta, passando pela savana. Embora possuindo o mesmo número de glândulas sudoríparas que os brancos, os negros transpiram mais, o que mantém seu corpo e sua pele numa temperatura menos elevada.
Existem, portanto, diversas etapas na investigação científica no que diz respeito às raças.
A abordagem morfológica
Eickstedt, por exemplo, define as raças como "agrupamentos zoológicos naturais de formas pertencentes ao gênero dos hominídeos, cujos membros apresentam o mesmo conjunto típico de caracteres normais e hereditários no nível morfológico e no nível comportamental".
Desde a cor da pele e a forma dos cabelos ou do sistema piloso, até os caracteres métricos e não métricos, a curvatura femural anterior e as coroas e os sulcos dos molares, foi construído um verdadeiro arsenal de observações e mensurações. Deu-se atenção especial ao índice cefálico, por estar relacionado à parte da cabeça que abriga o cérebro. É assim que Dixon estabelece os diversos tipos em função de três índices combinados de vários modos: o índice cefálico horizontal, o índice cefálico vertical e o índice nasal. Contudo, das 27 combinações possíveis, apenas oito (as mais freqüentes) foram aceitas como representativas dos tipos fundamentais, tendo sido as 19 restantes consideradas misturas. No entanto, as características morfológicas são apenas um reflexo mais ou menos deformado do estoque gênico; sua conjugação num protótipo ideal raramente se realiza com perfeição. De fato, trata-se de detalhes evidentes situados na fronteira homem/meio ambiente, mas que, justamente por isso, são muito menos inatos que adquiridos.
Reside aí uma das maiores fraquezas da abordagem morfológica e tipológica, na qual as exceções acabam por ser mais importantes e mais numerosas que a regra. Além disso, não se devem negligenciar as querelas acadêmicas sobre as modalidades de mensuração (como, quando, etc.), que impedem as comparações úteis. As estatísticas de distância multivariada e os coeficientes de semelhanças raciais, as estatísticas de "formato" e de "forma", a distância generalizada de Nahala Nobis requerem tratamento por computador. Ora, as raças são entidades biológicas reais que devem ser examinadas como um todo e não parte por parte.
A abordagem demográfica ou populacional
Este método vai insistir, de imediato, sobre fatos grupais (reservatório gênico ou genoma), mais estáveis que a estrutura genética conjuntural dos indivíduos. De fato, na identificação de uma raça, é mais importante a freqüência das características que ela apresenta do que as próprias características. Como o método morfológico está praticamente abandonado 2, os elementos serológicos ou genéticos podem ser submetidos a regras de classificação mais objetivas. Para Landman, uma raça é "um grupo de seres humanos que (com raras exceções) apresentam entre si mais semelhanças genotípicas e freqüentem ente também fenotípicas do que com os membros de outros grupos". Alekseiev desenvolve também uma concepção demográfica das raças com denominações puramente geográficas (norte-europeus, sul-africanos, etc.). Schwidejzky e Boyd acentuaram a sistemática genética: distribuição dos grupos sangüíneos A, B e O, combinações do fator Rh, gene da secreção salivar, etc.
O hemotipologista também leva em conta a anatomia, mas no nível da molécula. No que diz respeito à micromorfologia, descreve as células humanas cuja estrutura imunológica e cujo equipamento enzimático são diferenciados, sendo o tecido sangüíneo o material mais prático para isso. Os marcadores sangüíneos representam um salto histórico qualitativo na identificação científica dos grupos humanos. Suas vantagens em relação aos critérios morfológicos são decisivas. Primeiramente, eles são quase sempre monométricos, isto é, sua presença depende de um só gene, enquanto o índice cefálico, por exemplo, é o produto de um complexo de fatores dificilmente localizáveis 3.
Além disso, enquanto os critérios morfológicos são traduzidos em números utilizados para classificações com fronteiras arbitrárias ou mal definidas, como por exemplo entre o braquicéfalo típico e o dolicocéfalo típico, os marcadores sangüíneos obedecem à lei do tudo ou nada. Uma pessoa é ou não do grupo A, tem fator Rh+ ou Rh- e assim por diante. Além disso, os fatores sangüíneos independem quase inteiramente da pressão do meio. O hemótipo é fixado para sempre, desde a formação do ovo. Eis por que os marcadores sangüíneos escapam ao subjetivismo da tipologia morfológica. Aqui, o indivíduo é identificado por um conjunto de fatores gênicos, e a população por uma série de freqüências gênicas. A grande precisão desses fatores compensa seu caráter parcial em relação à massa dos genes no conjunto de um genoma. Isso tornou possível elaborar um atlas das "raças" tradicionais.
Três categorias de fatores sangüíneos foram estabelecidas. Algumas, como o sistema ABO, são encontradas em todas as "raças" tradicionais sem exceção. Certamente elas pré-existiam à hominização. Outros fatores como os do sistema Rh são onipresentes, mas com certa predominância racial. Assim, o cromossomo r existe principalmente entre os brancos. O cromossomo Ro, conhecido como "cromossomo africano", tem uma freqüência particularmente alta entre os negros ao sul do Saara. Trata-se, certamente, de sistemas que datam do momento em que a humanidade começava a se propagar- em nichos ecológicos variados. Outra categoria de sistemas denota uma repartição racial mais marcada, como os fatores Sutter e Henshaw, encontrados quase que unicamente entre os negros, e o fator Kell, presente sobretudo entre os brancos. Embora eles nunca sejam exclusivos, foram qualificados de "marcadores raciais". Enfim, alguns fatores são geograficamente muito circunscritos como, por exemplo, a hemoglobina C para as populações do planalto voltense.
Embora os fatores sangüíneos sejam desprovidos de valor adaptativo, não escapam inteiramente à ação do meio infeccioso ou parasitário; este pode exercer sobre eles uma triagem com valor seletivo, levando, por exemplo, à presença de hemoglobinas características. Isso ocorre com relação às hemoglobinoses S, ligadas à existência de células falciformes ou drepanócitos entre as hemácias. Elas foram detectadas no sangue dos negros da África e da Ásia. Perigosa apenas no caso dos homozigotos, a hemoglobina S (Hb S) é um elemento de adaptação à presença de Plasmodium falciparum, responsável pelo paludismo. O estudo dos hemótipos em grandes áreas permite o traçado de curvas isogênicas que mostram a distribuição geográfica dos fatores sangüíneos por todo o mundo. Associado ao cálculo das distâncias genéticas, ele dá uma idéia de como as populações se situam umas em relação às outras, enquanto o sentido dos fluxos gênicos permite reconstituir o processo prévio de sua evolução.
Apesar de seus desempenhos excepcionais, contudo, o método hemotipológico e populacional encontra dificuldades. Primeiramente, porque seus parâmetros se multiplicam enormemente e já estão apresentando resultados estranhos a ponto de serem encarados por alguns como aberrantes. É assim que a árvore filogênica das populações elaborada por L. L. Cavalli-Sforza difere da árvore antropométrica. Esta coloca os Pigmeus e os San da Africa no mesmo ramo antropométrico que os negros da Nova Guiné e da Austrália; na árvore filogênica, esses mesmos Pigmeus e San aproximam-se mais dos franceses e ingleses e os negros australianos dos japoneses e chineses 4. Em outras palavras, os caracteres antropométricos são mais afetados pelo clima que os genes, de modo que as afinidades morfológicas são mais uma questão de meios similares que de hereditariedades similares. Os trabalhos de R. C. Lewontin, com base nas pesquisas dos hemotipologistas, mostram que, no mundo inteiro, mais de 85 % da variabilidade situa-se no interior das nações. Somente 7 % da variabilidade separa as nações que pertencem à mesma raça tradicional e também apenas 7% separam as raças tradicionais. Em resumo, os indivíduos do mesmo grupo "racial" diferem mais uns dos outros que as "raças"...
É por isso que cada vez mais especialistas adotam a posição radical que consiste em negar a existência de qualquer raça. Segundo J. Ruffie, nas origens da humanidade pequenos grupos de indivíduos separados em zonas ecológicas diversificadas e afastadas, obedecendo a pressões seletivas muito fortes - enquanto os meios técnicos eram extremamente limitados -, puderam se diferenciar a ponto de dar origem às variantes Homo erectus, Homo neanderthalensis e o mais antigo Homo sapiens. O bloco facial, que é a parte do corpo mais exposta a meios ambientes específicos, evoluiu diferentemente; a riqueza de pigmentos melanínicos na pele desenvolveu-se em zona tropical, etc. Mas essa tendência especializante, rapidamente bloqueada, permaneceu embrionária. Em toda parte, o homem se adapta culturalmente (roupas, habitat, alimentos, etc.), e não mais morfologicamente, a seu meio. O homem nascido nos trópicos (clima quente) evoluiu por muito tempo como australopiteco, Homo habilis e até mesmo Homo erectus. "Foi apenas durante a segunda glaciação que, graças ao controle eficaz do fogo, o Homo erectus optou por viver em climas frios. A espécie humana transforma-se de politípica em monotípica e esse processo de desraciação parece irreversível. Hoje, a humanidade inteira deve ser considerada como um único reservatório de genes intercomunicantes."
Em 1952, Livingstone publicava seu famoso artigo "Da não existência das raças humanas". Diante da enorme complexidade e, portanto, da inconsistência dos critérios adotados para qualificar as raças, ele recomendava a renúncia ao sistema lineano de classificação, sugerindo uma árvore genealógica". De fato, nas zonas não isoladas, a freqüência de certos caracteres ou de certos genes evolui progressivamente em várias direções e as diferenças entre duas populações são proporcionais a seu distanciamento físico, de acordo com uma espécie de gradiente geográfico (cline). Relacionando cada traço distintivo aos fatores de seleção e adaptação que podem tê-lo favorecido, notamos freqüências ligadas, ao que parece, muito mais. a fatores tecnológicos, culturais e outros, que não coincidem de maneira nenhuma com o mapa das "raças" 6. Dependendo do critério adotado (cor da pele, índice cefálico, índice nasal, características genéticas e assim por diante), obtêm-se mapas diferentes. É por isso que alguns especialistas concluem, a partir daí, que "toda teoria das raças é insuficiente e mítica". "Os últimos progressos da genética humana são tais hoje em dia que nenhum biólogo admite a existência de raças na espécie humana." 7 Biologicamente, a cor da pele é um elemento negligenciável em relação ao conjunto do genoma. De acordo com Bentley Glass, não há mais de seis pares de genes pelos quais a raça branca difere da raça negra. Os brancos freqüentem ente diferem entre si num grande número de genes, o mesmo acontecendo com os negros. E: por isso que a Unesco, depois de ter organizado uma conferência de especialistas internacionais, declarou: "A raça é menos um fenômeno biológico do que um mito social". 8 Isso é tão verdadeiro que, na África do Sul, um japonês é considerado como "branco honorário" e um chinês como "homem de cor".
Para Hiernaux, a espécie humana parece uma rede de territórios genéticos, de genomas coletivos que constituem populações mais ou menos semelhantes, cuja distância qualitativa é expressa por uma avaliação quantitativa, (taxonomia numérica). As fronteiras desses territórios, definidos a partir do cline, flutuam com todas as mudanças que afetam os traços aparentes (fenótipos) e os dados serológicos (genótipos) das coletividades. Dessa maneira, qualquer "raça", em conformidade com a brilhante intuição de Darwin, seria em suma um processo em marcha, dependendo de algum modo da dinâmica dos fluidos; e os povos seriam todos mestiços ou estariam em vias de sê-lo. De fato, cada encontro de povos pode ser analisado como uma migração gênica e esse fluxo genético volta a questionar o capital biológico de ambos.
Porém, mesmo que essa abordagem fosse mais científica, mesmo que esses territórios genéticos mutáveis fossem realmente aceitos pelas comunidades em questão, poderíamos dizer que os sentimentos de tipo "racial" seriam suprimidos, uma vez que conservariam sua base material visível e tangível, sob a forma de traços fenotípicos?
Desde que os nazistas, a começar por Hitler, e em seguida outros pseudo-pensadores afirmaram que o homem mediterrâneo representa um nível intermediário entre o ariano, "Prometeu da humanidade", e o negro, que é "por sua origem um meio-macaco", o mito racial tem permanecido vivo. Os morfologistas impenitentes continuam a alimentar esse fogo ignóbil com alguns galhos mortos 9. Lineu, no século XVIII, dividia a espécie humana em seis raças: americana, européia, africana, asiática, selvagem e monstruosa. Com certeza, os racistas se encontram numa ou noutra das duas últimas categorias.
De todas essas teses, hipóteses e teorias, devemos conservar o caráter dinâmico dos fenômenos "raciais", tendo em mente que se trata de um dinamismo lento e espesso, que se exerce sobre uma enorme quantidade de registros, nos quais a cor da pele (mesmo que ela seja medida por eletroespectro-fotômetro) ou a forma do nariz constituem apenas um aspecto quase irrisório. Nessa dinâmica, devem ser levados em conta dois componentes que agem em conjunto: o patrimônio .genético, que pode ser considerado um gigantesco banco de dados biológicos em ação, e o meio ambiente, em sentido amplo, pois começa já no meio fetal.
As mudanças que resultam da interação desses dois fatores básicos intervêm seja sob a forma incontrolável da seleção e da migração gênica (mestiçagem), seja sob a forma: casual da oscilação genética ou da mutação. Em resumo, é toda a história de uma população que explica sua presente facies "racial", incluindo, através da interpretação das representações coletivas, as religiões, os costumes alimentares, de vestuário e outros.
Nesse contexto, o que dizer da situação racial do continente africano? A difícil conservação dos fósseis humanos devido à umidade e à acidez dos solos dificulta a análise histórica sob esse ponto de vista. Contudo, pode-se dizer que, ao contrário das teorias européias que explicam o povoamento da África pelas migrações vindas da Ásia, as populações desse continente são em grande parte autóctones. Quanto à cor da pele dos habitantes mais antigos do continente nas latitudes tropicais, vários autores pensam que ela deveria ser escura (Brace, 1964), pois a própria cor negra é uma adaptação protetora contra os raios nocivos, principalmente os ultravioleta. A pele clara e os olhos claros dos povos do norte seriam caracteres secundários ocasionados por mutação ou por pressão seletiva (Cole, 1965).
Hoje, embora não se possa traçar uma fronteira linear, dois grandes grupos "raciais" são identificáveis no continente africano dos dois lados do Saara: no norte, o grupo árabe-berbere, com patrimônio genético "mediterrâneo" (líbios, semitas, fenícios, assírios, gregos, romanos, turcos, etc.); no sul, o grupo negro. Convém notar que as mudanças climáticas, que às vezes anularam o deserto, provocaram durante milênios numerosas mesclas populacionais.
A partir de várias dezenas de marcadores sangüíneos, Nei Masatoshi e A. R. Roy Coudhury estudaram as diferenças genéticas inter e intragrupos em caucasóides e mongolóides 11. Eles definiram coeficientes de correlação, a fim de estabelecer o período aproximado em que esses povos se separaram e constituíram grupos distintos. Ao que tudo indica, o grupo negróide tornou-se autônomo há 120 000 anos, enquanto os mongolóides e caucasóides individualizaram-se há apenas 55000 anos. Segundo J. Ruffie, "esse esquema ajusta-se à maior parte dos dados da hemotipologia fundamental" 12. A partir dessa época, muitas misturas se realizaram no continente africano.
Tentou-se mesmo visualizar as distâncias biológicas das populações graças à técnica matemática dos componentes principais. A. Jacquard estudou 27 populações espalhadas desde a região do Mediterrâneo até o sul do Saara 13, utilizando cinco sistemas sangüíneos que compreendiam 18 fatores. Ele obteve três grupos principais repartidos em quatro agregados: um ao norte, os caucasóides, composto de europeus, Regueibat, árabes sauditas e Tuaregue Kel Kummer; um ao sul, que consistia nos grupos negros de Agades; agregados intermediários, incluindo os Peul Bororo, os Tuaregue de Air e de Tassili, os etíopes, etc.; e ainda os Harratin, tradicionalmente considerados negros. Assim, seria um engano pensar que essa subdivisão confirma a classificação tradicional em "raças", uma vez que, independentemente do que foi dito acima, a forma geral da subdivisão resulta da quantidade de informações considerada; se esta é muito pequena, todos os pontos podem ser reunidos.
Além disso, a respeito do homem subsaariano, é preciso notar que seu nome original, atribuído por Lineu, era Homo ater (africano). Depois, eles foram chamados "negros" e, mais tarde, "pretos". O termo "negróide", mais abrangente, era usado às vezes para designar todas as pessoas que, às margens do continente ou em outros continentes, se pareciam com os pretos. Hoje, apesar de algumas notas dissonantes, a grande maioria dos especialistas reconhece a unidade genética fundamental dos povos subsaarianos. Segundo Boyd, autor da classificação genética das "raças" humanas, existe apenas um grupo negróide que compreende toda a parte do continente situada ao sul do Saara e também a Etiópia; esse grupo difere sensivelmente de todos os demais. Os trabalhos de J. Hiemaux estabeleceram essa tese com notável clareza. Sem negar as variantes locais aparentes, ele demonstra, pela análise de 5050 distâncias entre 101 populações, a uniformidade dos povos no hiperespaço subsaariano, que engloba tanto os "Sudaneses" quanto os "Bantu"; tanto os habitantes das regiões costeiras quanto os Sahelianos; tanto os "Khoisan" quanto os Pigmeus, os Nilotas, os Peul e outros "Etiópidas". Em compensação, ele mostra a grande distância genética que separa os "negros asiáticos" dos negros africanos. Mesmo no campo da lingüística, que nada tem a ver com o fato "racial" mas que foi utilizada em teorias racistas para inventar uma hierarquia das línguas que refletisse a pretensa hierarquia das "raças", na qual os "verdadeiros negros" ocupavam o grau mais baixo da escala, as classificações evidenciam cada vez mais a unidade fundamental das línguas africanas. As variantes somáticas podem ser explicadas cientificamente pelas causas das mudanças discutidas acima, especialmente os biótipos que ora dão origem a agregados de populações mais compósitas (vale do Nilo), ora a grupos populacionais isolados, que desenvolvem características mais ou menos atípicas (montanhas, florestas, pântanos, etc.). Por fim, a história explica outras anomalias através das invasões e migrações, sobretudo nas zonas periféricas. A influência biológica da península Arábica no chamado "Chifre da África" também se evidencia nos povos dessa região, como os Somali, os Galla e os etíopes, mas também, com certeza, nos Tubu, Peul, Tukulor, Songhai, Haussa, etc. Já tivemos oportunidade de ver alguns Marka (Alto Volta) com um perfil tipicamente "semita".
Em suma, a admirável variedade dos fenótipos africanos é sinal de uma evolução particularmente longa desse continente. Os fósseis pré-históricos de que dispomos indicam uma implantação semelhante às encontradas no sul do Saara numa área muito vasta, que vai da África do Sul até o norte do Saara, tendo a região sudanesa representado, ao que parece, o papel de encruzilhada nessa difusão.
Com certeza, a história da África não é uma história de "raças". Contudo, para justificar uma certa história, abusou-se demais do mito pseudocientífico da superioridade de algumas “raças”. Ainda hoje, o mestiço é considerado branco no Brasil e Preto nos Estados Unidos da América. A ciência antropológica, que já demonstrou amplamente não haver nenhuma relação entre a raça e o grau de inteligência, constata que essa conexão as vezes existe entre raça e classe social.
A preeminência história da cultura sobre a biologia é evidente desde a aparição do Homo no planeta. Quando irá tal evidência impor-se aos espíritos?
Notas
1 Quanto às teorias policêntricas e suas variantes. ver os trabalhos de G. WEIDENREICH, COON e as refutações de ROBERTS.
2 Cf. WIERCINSKY, 1965.
3 Cf. RUFFIE. J.
4 Citado por J. RUFFIE, 1977. p. 385. Da mesma forma, com base em certos caracteres genéticos (o gene Fy no sistema de DUFFY, o alelo Ro, etc.), a .porcentagem de mescla branca entre os negros americanos resultante da mestiçagem que se vem operando nos Estados Unidos seria de 25 a 30%. Alguns cientistas concluíram, a partir disso, que se trata de um novo grupo, precipitadamente batizado como "raca norte-americana de cor".
5 MAYR, E., citado por RUFFIE, J. p. 115.
6 Cf. MONTAGU. "Le Concept de Race."
7 RUFFIE, J. p. 116.
8 Quatro declarações sobre a Questão Racial, Unesco, Paris, 1969.
9 J. RUFFIE cita um dicionário francês de medicina e biologia que, em 1972, mantém o conceito de raça segundo o qual existem três grupos principais (brancos, negros, amarelos), baseados em critérios morfológicos, anatômicos, sociológicos... e também psicológiicos...No início do século, C. SEIGNOBOS, em sua Histoire de la Civilisation, escrevia: "Os homens que povoam a terra...também diferem em língua, inteligência e sentimentos. Essas diferenças permitem dividir os habitantes da terra em vários grupos conhecidos como "raças".
10 A teoria camítica (SELIGMAN e outro) - que se deve, por um lado, à ignorância de certos fatos e, por outro, à vontade de justificar o sistema colonial - é a forma mais racista dessas montagens pseudocientíficas.
11 MASATOSHI, Nei e Roy COUDHURY, A. R., 1974. 26, 421.
12 RUFFIE. J. p. 399.
13 JACQUARD, A., 1974. p. 11-124.